Toti
Hoje nós vamos falar de bariátrica, sim. Aliás, eu vou falar de dois momentos da minha vida, mas o início e o fim serão sobre a bariátrica, principalmente pelo preconceito gigantesco que existe ao redor dela.
De todas as frases acima citadas, a que mais ouvi, e talvez seja unanimidade é: COM CIRURGIA ATÉ EU.
E vocês não imaginam o quanto isso dói para um bariátrico.
Vamos partir do princípio básico que obesidade é doença. Ninguém é gordo porque quer. Comida é maravilhosa, é. Estamos todos de acordo. Mas compulsão alimentar, ansiedade, fatores genéticos e ambientais, tumores, doenças endócrinas também são causas que fazem com que o peso aumente. Julgar é muito fácil.
Eu mesma sempre tive sobrepeso. Minha fase de obesidade durou um ano, talvez.
Mas preciso começar lá no final da minha infância e início da adolescência pra contar um pouco de como cheguei ao ponto de uma bariátrica. Eu sempre tive sobrepeso. No final da infância eu fiz exame de sangue e estava com triglicerídeos alto, então comecei uma dieta. Eu sempre tive vergonha do meu sobrepeso mas isso nunca impediu de eu ser uma pessoa alegre com as pessoas com quem convivi. Só que a adolescência chega pra todo mundo, né?
Eu comecei a me esconder atrás de camisetas e calças largas. Não existia vaidade em mim. Achei que era uma fase, mas eu acabei sendo um tanto reclusa. Eu já tinha lido todos livros da biblioteca da minha escola mas raramente saía com meus amigos naquela fase que os pais começaram a liberar. Eu não gostava porque eu era o patinho feio. As minhas roupas era muito diferentes das que minhas amigas se vestiam, eu não me sentia realmente a vontade.
Lembro da minha formatura do Ensino Médio que eu era a única guria a estar vestida de calça. Eu não era exatamente gorda, mas eu não me sentiria a vontade de vestido. Foi eu que optei pela minha roupa. Eu estava de salto alto como as demais, mas eu era a diferente, sabem? E não era um diferente realmente legal. Eu gostava de ser diferente, mas no fundo, eu me sentia perdida. Não deixei de me divertir, sempre fui muito espontânea, alegre, risonha, mas eu tava diferente e eu não queria estar.
E dois meses depois eu já estava na faculdade de Direito. Minhas colegas iam para a aula como se estivessem produzidas para uma festa. Eu ia para a aula como se estivesse pronta para a academia. E eu nunca nem gostei de academia.
Eu tinha 17 anos ainda.
E repito. Eu nem era gorda. Mas as minhas colegas eram magérrimas. Eu não cabia nelas. Tanto que desde muito cedo a maioria das minhas amizades foram com homens. Eu não sei se tem a ver, até hoje não sei porque eu nunca senti inveja ou quis ser como elas, mas eu só sabia que eu não cabia naqueles estereótipo mas eu não queria ser diferente do que eu era. Só que eu olhava para meu roupeiro e eu não tinha uma saia. Eu pensava que eu ficaria horrível se vestisse uma roupa assim, e as vezes eu queria sair, me arrumar e me sentir um pouco bonita. A verdade é que eu nunca me senti bonita. Não para os olhares dos outros, mas para meus olhos. Meus olhos nunca me viram bonita. E assim como na formatura no ensino médio, doeu. Mas até então, ainda não era um problema, eu ainda podia me esconder nos livros ou atrás das minhas piadas.
Mas eu vou pular 10 anos, quando tive depressão, engordei 40kg em 3 ou 4 meses e o sobrepeso passou para obesidade grau 2. Foi aí que tentei dietas e a cada 2kg que emagrecia, engordava 3. Chegou a um ponto que pedi socorro e optei pela cirurgia. Eu me escondia das pessoas. "mas tu não precisa de cirurgia". Ah, eu precisava sim. Eu estava com 125kg. Depressiva. Com gordura no fígado. Sem saúde. Se já não existia auto-estima, eu não tinha vontade de viver. Aí vinha as frases "Por que não fecha a boca?" eu devolvia a frase pra pessoa "porque tu não fecha a tua?"
As pessoas acham que fazer bariátrica é ir lá, mostrar pro médico que está gordo e que vai emagrecer e ficar tudo bem. GENTE, DEIXEM DE SER IGNORANTES.
Eu queria fazer dois convites.
1. Assistam o programa Quilos mortais. Eu sequer consigo assistir de tanto que choro.
2. Entrem em grupos do facebook de pessoas que estão NA SEGUNDA BARIÁTRICA.
Quem faz bariátrica ENGORDA TUDO DE NOVO, SIM. Por desleixo? NEM SEMPRE. E esses grupos são muito tristes. Bariátrica é um sonho pra 100% das pessoas que faz a cirurgia porque ela é uma cirurgia pra reparar a saúde, veja bem, BARIÁTRICA NÃO É UMA CIRURGIA ESTÉTICA, e, além disso, tu tem que lidar com flacidez, estrias, com excesso de pele, com um milhão de coisas que as pessoas chamam de "mimimi" porque acham que porque tu emagrece, obrigatoriamente tua auto-estima tem que ficar lá em cima. Tu ganha saúde, tua vida melhora com toda certeza, tu consegue encontrar roupas com maior facilidade que antes (eu mesma consegui usar saia), mas veja, vou fazer 3 anos de cirurgia e faz 1 ano (ou menos) que tenho conseguido tirar fotos. E ainda não consigo colocar fotos do meu antes, com 125kg. O que deveria ser um orgulho já que hoje peso 63kg para 1,69m
Ah, e já mencionei anteriormente, eu quase morri pós bariátrica.
Por exemplo, eu nunca me importei com estrias, já tenho uma amiga que é surtada com as dela. Já eu tenho surtos com a flacidez, coisa que não incomoda essa mesma amiga. Então, cada um tem sua jornada. E o julgamento de "mimimi" existe de onde a gente menos queria. Então imagina um "COM CIRURGIA É FACIL".
E digo mais. Agora, 2 anos após cirurgia eu percebi que estava entrando numa fase de compulsão alimentar, tive que procurar um médico com urgência. Eu percebi, mas tem quem não perceba e acaba entrando numa vibe de comer, comer comer e... estomago dilata e quando vê... ENGORDA TUDO DE NOVO.
COM CIRURGIA NÃO É MAIS FÁCIL. CARAI, REPEITA A NOSSA HISTÓRIA, AS NOSSAS CICATRIZES, A NOSSA PELE GELATINOSA, E QUALQUER EFEITO QUE POSSA TER (OU NÃO PORQUE NÃO HÁ REGRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAS E HÁ COLAGENOOOOOOOOOOOOOOOO)!
Deu. Obrigada pela atenção.
PS.: Obrigada Mario Ferraço pela foto e Parabéns pelo resultado. Tamo junto e grampeado, brother!
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