Toti

Esta ébria conhecida se apossou da frase dos alcoólicos anônimos para intitular um texto que não faz a mínima ideia onde vai parar. Na verdade, eu nunca sei. Eu entendi que a minha vontade de escrever é um impulso, nem sempre tenho ideia do que vou escrever, mas preciso só jogar pra fora um vazio que sinto em mim, precisamente no mediastino, parece que é ali que se localiza o vazio. 

Eu sempre senti isso, ainda na adolescência consigo ter lembranças desse vazio, é só uma espécie de tristeza ou desânimo que bate do nada, mas tu nem se sente apanhando, só sente, vivencia e... depois passa. Eu sinto até nos meus momentos de alegria mas eu também aprendi a não deixar que esse vazio se sobreponha à alegria. E também aprendi que, às vezes se eu ligar uma música, se eu dançar, ele também vai embora.

Às vezes penso se é isso que os alcoólatras sentem porque eu sei que muitos não conseguem identificar e a bebida acaba sendo um refúgio. E se esse vazio for inconsciente também. Bom, eu realmente não sei mas também não vou colocar aqui quaisquer possíveis teorias sobre sentimentos. Ou não-sentimentos já que é vazio.

A lição que fica, pra mim, realmente é, ou tem sido, de viver um dia de cada vez. E isso é extremamente difícil pra mim porque eu tô com medo o tempo inteiro e, só em falar sobre isso meus olhos já se enchem de lágrimas já que eu não quero mais ter medo de algo que não posso lutar. Eu posso fazer hoje algo que modifique o meu futuro, mas não posso viver lá na frente. E esse é o meu processo, trazer minha cabeça para o hoje, para o meu momento, não tentar adivinhar meu futuro, nem o que os outros pensam e tentar não confundir a ansiedade com intuição.

Porque a intuição avisa. Eu não sei vocês mas a minha avisa. Quando uma pessoa muda qualquer detalhe comigo, eu entro quase numa paranoia pra entender o que minha cabeça está fazendo comigo. E às vezes demora dias. Eu já juntei os pontos e descobri tanta coisa, e tanta coisa que me fere de um jeito porque eu realmente não vejo razão para as pessoas usarem de maldade comigo, de falta de honestidade, mas as pessoas são assim e eu não posso fazer absolutamente nada. E como eu vou argumentar com alguém sobre "NINGUÉM ME CONTOU EU SÓ SEI... PORQUE SEI". Sei quando são desleais, sei quando traem minha confiança, sei quando deixam de me amar ou passam a amar outra pessoa. E longe de mim ser uma "sabe-tudo". É sentimento e, quem dera eu conseguisse lidar com isso de uma forma mais positiva ou inteligente.


Primeiro quero dizer que essa foto tá sendo postada num ato de coragem, sem filtro, sem analisar se to feia e o que quer que seja, porque eu to chorando e chorar é a coisa mais verdadeira que sei fazer porque é o quanto me importo e o quanto eu sinto sobre o mundo. E essa foto retrata como eu fico cada vez que vou escrever e cada vez que preciso colocar meus demonios pra fora porque eu não posso fazer nada sobre o mundo, sobre as pessoas, mas é assim que fico quando me sinto machucada. Eu choro a ponto de meu pescoço molhar, às vezes, da minha roupa molhar. Porque dói. E eu não acho que sou uma pessoa triste por deixar doer, tá doendo até eu saber lidar.

Não sou um exemplo de pessoa boa, mas nunca, eu juro que nunca na minha vida quero fazer algo por alguém e deixá-la nesse estado. Eu prezo pela honestidade e sinceridade por isso, porque a vida não foi feita pra doer, não. Na maior parte do meu tempo eu sou positiva e sei lidar com o que tenho pela frente mas até eu entender e é exatamente aí que, por vezes, eu me perco e caio em uma depressão. Então é isso que to aprendendo a fazer, tentar entender a ansiedade, tentar entender o que sinto e, principalmente, me deixar sentir, deixar doer, falar quando algo me incomoda. Tudo é o meu processo de aprendizado dessa vida e dizia Raul Seixas que "o homem é o exercício que faz".

Tenho ficado realmente orgulhosa do tanto que to aprendendo nesse ciclo. O quanto me faz crescer. O quanto me faz me importar menos com coisas pequenas e focar minha energia para o que realmente interessa. Hoje minha energia tá focada em mim, em me desconstruir pra me ver e poder me construir sendo alguém um pouco melhor pra mim mesma.

E não é porque o ser humano machuca que vou desistir dele, eu vi que eu já me machuquei muitas vezes, nos nãos que não disse, quando permiti ser humilhada, quando me senti fracassada, quando achei que era incapaz, quando eu quis desistir de tudo. Nada me machuca mais do que o sentimento de culpa e por tantas e tantas e tantas vezes eu me culpei por algo que não era meu. Eu brinco que me cobro tanto que daqui a pouco chego em forma de boleto na vida das pessoas. Mas por vezes, e na maioria das vezes, essas cobranças são tão desnecessárias.

Sabem, eu comecei a praticar meditação e logo no início quando consegui trazer minha cabeça para o momento, eu comecei também a sentir dores enormes no meu corpo, no pescoço, nas pernas, na coluna. Teve um dia que tive que parar a meditação no meio e alongar meu corpo pra parar de doer e, comentei a situação pra minha mãe que disse: é porque tu relaxa, tu vive tensa.

FOI UM TAPA, mas daqueles que fazem a gente realmente pensar. Ela tem razão. Eu acho que se conseguisse desenhar meu interior ia ser tudo contorcido e pra fechar eu colocaria umas pupilas dilatadas. E eu sei, sei bem que as pessoas não enxergam essa pessoa. Eu gosto tanto quando as pessoas falam da minha energia, do quanto é bom estar em minha companhia e é por isso que eu não acreditava, porque na minha própria companhia eu não sou assim.

Entendem o quanto eu consigo ser ruim comigo mesma? Eu to acordando agora pra isso. Não existe ninguém no mundo que eu precise perdoar mais que a mim mesma. 

E quero dizer que eu perdoo e me permito hoje a ser de verdade. É libertador!