Toti



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Eu acho que desaprendi a contar histórias, por algum motivo. Realmente não sei explicar, eu só acredito nisso.

Certa vez, em 2009, um amigo me disse que tinha raiva de mim (em tom de brincadeira, ok?) porque se a gente estivesse vendo um prego na parede, pra ele era apenas um prego mas eu conseguia descrever toda uma história sobre esse prego e o porquê ele estava ali. Lembro que pouco tempo depois escrevi um texto à ele falando sobre pregos e macaco-prego. Fiz alguma ligação sobre eles, e como resposta a isso veio um: tá vendo? Minha raiva só aumenta.

Pra quem escreve, bem ou mal, quando alguém lê um texto teu e fala sobre ele de uma forma construtiva, é como se estivesse abraçando o escritor. Motiva, mesmo que não faça a mínima ideia de onde virá a próxima inspiração, mas escrever também requer prática e várias outras coisas que eu mesma não tenho (ainda).

A situação é que toda vez que estou pensando em uma história, ela acaba e muitas vezes por motivos alheios à minha vontade. Ou porque os envolvidos na história resolvem que é hora de outros rumos, ou porque minha criatividade não faz questão de seguir aquele raciocínio. Adoro essas metáforas porque posso estar falando de histórias que invento ou que vivo e essa é a arte, ninguém saberá.

Em todo caso, posso afirmar que eu vivencio todas minhas histórias, inventadas ou não. Por exemplo, esses dias um pássaro que acredito ser uma andorinha veio cantar na minha janela às 3h da manhã. EU RI DEMAIS. Porque aquele passarinho não fazia menor sentido quando os pássaros da espécie dele são sempre ouvidos por mim às 5h da manhã, quando me acordam com seus gritos (5h eu não considero canto por mais positiva que eu possa ser). Estar ali às 3h não tinha uma explicação lógica pra mim porque além de não entender nada de pássaros, eu não faço ideia do porque cantam (já ouvi falar de rituais de acasalamento, mas não vem ao caso). O fato é que eu ri porque pensei naquele como sendo um pássaro boêmio, que passa as noites por aí voando, cantando, bebendo (?) e volta pra casa ainda com os sentimentos que a noite lhe deu. Me identifiquei com ele nesse momento e então, vivenciei o sentimento.

Mas além de agora, eu nunca falei pra ninguém sobre essa noite, sobre o canto do pássaro em horário alternativo porque eu não achei interessante. Eu dei o nome a ele de Pardal, mesmo imaginando que essa não seja sua espécie, mas me veio em mente que “a noite todos gatos são pardos” e isso deve valer pra qualquer bicho, portanto, vale o pássaro era pardo, um Pardal. Na minha mente isso fez todo sentido.

E tudo bem se você leu até aqui e não entendeu absolutamente nada. Finalmente estamos também conectados porque meu sentimento é esse, de me sentir perdida. Quando histórias terminam há um limbo até começar a nova história, e é nesse limbo que tô vivendo. É aqui que tô decidindo o que quero da próxima história mas se eu não sei como ela vai começar, imagina pensar num final.

E meu problema em desacreditar em mim sobre uma boa contadora de histórias está justamente em querer saber de tudo que vou contar quando a real é que eu preciso começar apenas, eu preciso dar o impulso inicial e falar as minhas verdades, deixar que a história aconteça, na minha vida ou na minha cabeça.

E os finais inesperados são sempre os melhores, dizem. E eu concordo, então, nem sei o porquê me cobro quanto aos finais se a própria “História sem fim” é um sucesso mundial. As minhas histórias, todas elas, eu sei que vão ter fins, mas acontece que também serão sempre a mola para o começo de uma nova história.

E é assim que eu estou aprendendo a levar minha vida. Quando eu encerro um ciclo, por mais dolorido que seja, eu logo vou iniciar um outro que, por toda minha vida, eu vivi da ansiedade pra saber o final. A ansiedade foi minha pior e melhor companheira. A ansiedade não me deixou ver o caminho porque ela queria o desfecho. E Chico Buarque nos ensinou que a história adora uma repetição, e me vi repetindo palavras e informações em diversos dos meus ciclos. Agora. Agora não. Para minha próxima história eu estou levando somente o essencial.

Meu próximo ciclo vai iniciar como nos contos de fadas: era uma vez. E esse Era uma vez vai ser pra contar sobre quem eu fui até aquele momento e que, graças a tudo que há de bom na vida, eu não sou mais aquela.

É aqui que sinto que devo começar a contas a minha verdadeira história.


PS.: Obrigada, Cambota, pelo título do meu texto (mesmo que ele nunca chegue até você)