Toti
Acho que esse negócio da foto deveria ter dado certo, viu? Foi a melhor ideia que já tive.
Quem me conhece, o mínimo que seja, sabe que tenho uma briga enorme com a minha profissão. Hoje tenho um respeito enorme por ela porque, parafraseando Sobral Pinto, aprendi que realmente não é uma profissão para covardes. 
Nunca fui covarde, mas nunca me encontrei dentro da advocacia. Ao menos, não havia me encontrado até então. Meu senso de justiça sempre foi gritante desde criança e, logicamente, quando a gente é adolescente acredita que pode mudar o mundo.
Mas aí quando a gente realmente cresce - vira adulto - começa a perceber que tipo de mundo a gente quer mudar e, quando fiz minhas escolhas eu vi que talvez eu poderia ter mudado o meu mundo com a literatura, com a escrita, com a cultura. E depois de tantos anos de experiência e tantos anos de "sangue e América do Sul", percebo que viver disso no Brasil também é uma piada tamanho desrespeito pelas classes.
Sábado fui à Feira do Livro de Porto Alegre e ao final participei de um sarau. Minha vontade foi de tirar um ano sabático só para ler os livros indicados. Absorver as informações e adentrar nas histórias e sair do meu mundo. E sair do Brasil da única forma que poderia hoje em dia. 
Mas voltando à advocacia, por vezes eu terceirizei a escolha do curso. Por vezes eu sentia tanta culpa em ter feito essa escolha que eu dizia que ela não era minha, que eu me vi sem alternativas. Ou era o Direito, ou era morrer de fome no futuro, porque eram o que me apresentavam da profissão que eu queria tanto na época (Artes Cênicas).
Pois veja, viver do Direito não é tão fácil assim. Às vezes me pego pensando onde estaria se estivesse feito Artes Cênicas e acho que a resposta seria: Se eu tivesse optado pelo Direito hoje eu dia eu seria rica.
Só isso! Seria uma infeliz iludida.
Depois já não queria tanto assim as Artes Cênicas. No 5º semestre de Direito pensei em mudar para o Jornalismo. Eu repudiava (não que eu goste hoje em dia, longe disso) a formalidade do Direito, aquilo não era pra mim (e ainda não é). E aí fui conhecer o curso de Jornalismo e me deparei com o que? Com toda uma formalidade, tanto na escrita, quanto ao impostar a voz (tá certo esse verbo, impostar?) e pra piorar minha vida, tinha câmeras. Mesmo que não viesse a trabalhar com isso, eu ia ter que passar por isso durante a faculdade e, claramente, preferia toda a formalidade do juridiquês do que ficar em frente às câmeras naquela época.
Então minha ideia foi: vou terminar o Direito e, quando estiver estável, vou fazer a faculdade que eu quiser!
Não que hoje eu esteja estável, muito pelo contrário, mas só em pensar em fazer uma outro curso meus ossos já querem se soltar da carne. Tô na minha segunda pós graduação. Tenho pensado demais na minha vida profissional, quero ser melhor nela. Tive experiências ruins ao longo desses anos mas no final, se eu analisar, a carga de vida que trouxe pra mim, ninguém me tira, então nem dá pra considerar ruim tais experiências.
Teve uma experiência que acredito que devo compartilhar, porque a vida é uma caixinha de surpresas. Eu estava aguardando para fazer uma audiência e minha cliente levou o filho dela, de aproximadamente cinco anos, junto para audiência porque não tinha com quem deixá-lo e tudo bem. Nós estávamos aguardando a pauta e ela foi ao banheiro e a criança ficou sob meus cuidados e me ofereceu um chiclete. Eu aceitei porque estava com um gosto ruim na boca e veio a calhar. Só que o chiclete da criança eram daqueles que pintam a língua e assim que coloquei o chiclete na boca, tanto minha língua quanto meus dentes ficaram azuis e minha audiência era a próxima. Aquele dia foi complicado manter o respeito, e vi que não foi uma boa escolha eu ter aceitado chiclete da criança (queria dizer que eu ri demais quando vi meus dentes no espelho mas eu não tinha o que fazer quando me chamaram e minha cliente estava ciente do ocorrido).
E assim como ter aceitado aquele chiclete, talvez eu tenha feito realmente péssimas escolhas após ter me formado e não do curso que fiz. Acredito que essa é a minha realidade. O Direito não tem culpa, ele me rendeu tantas xícaras de café que eu não sei o porquê o culpei tanto. Talvez porque eu queria ser uma jedi e uma jedi não pude ser, mas nem sempre as coisas são como a gente planeja, né?
De verdade, eu estou numa fase que eu não sei muito sobre o meu futuro profissional mas eu posso dizer que com o meu trabalho eu ajudei muita gente e só por essa conclusão eu sei que tudo que passei valeu a pena.
Que eu possa fazer melhores escolhas daqui pra frente!

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