Toti
Eu tenho aprendido um tanto com a vida e da forma mais dura possível, aquela que a dor te atravessa o peito e tu sente na alma. Sei que tenho tendência a dramaticidade, mas não foram poucas às vezes que caí em lágrimas, sem conseguir respirar, achando que o tempo não passava, que eu estava estagnada, e aquilo parecia que estava moendo minha carne que se separava dos ossos, a dor estava física mas eu sabia que ela estava totalmente no meu psicológico.
A depressão estava batendo à porta. Porque a depressão não é quando você fica triste por terminar com o namorado, ou quando briga com a família e chora, nem mesmo quando você se tranca no quarto por ver um amigo ir embora. A depressão é quando você chora e não encontra qualquer motivo pra isso, é quando custa muito para conseguir sair da cama porque nada mais faz sentido. E aí o corpo reclama.
Eu já passei por isso há 5 anos e graças a muito apoio de amigos e familiares, de médicos e medicamentos e de muita leitura de minha parte, eu consegui sair dessa, mas às vezes um anjinho triste se senta no meu ombro e começa suas lamúrias e eu acabo me apagando novamente.
Percebi que tenho que estar em eterno estado de vigília porque eu nunca sei qual vai ser o gatilho que vai me empurrar para o poço novamente. Mas desta última vez foram pessoas, ou melhor, mais uma vez foram pessoas. E eu percebi que estava na hora de eu ir embora da vida de muita gente.
Filtrar dói. Ir embora quando se quer ficar, dói, mas era importante eu saber o meu próprio valor já que minha existência se tornou indiferente pra muita gente. Não é julgamento, entendam. Muitas das coisas eu mesmo poderia estar colhendo... ou me livrando.
O ser humano é incrivelmente ruim quando quer. Conscientemente ruim porque permanecem em seus atos mesmo magoando as pessoas.
Eu acho incrível a maldade que existe em algumas pessoas que convivi. Todo dia eu vi alguém querendo por qualquer motivo me colocar pra baixo. Isso cansa, sabe? Aliás, também cansa colocar energia em algo que não tem reciprocidade e perceber que aí é um erro a ser dividido. É cansativo separar todo o lixo que me jogam. É exaustivo ver pessoas tão filhas da @ na tua vida, sugando tua alegria, tua vontade de viver. E pior é assistir tudo isso acontecendo na tua frente e tu não conseguir fazer nada, se sentir impotente, inútil, ter vontade de gritar. Pedir ajuda e ninguém ouvir. Tudo exige da gente uma força sobre-humana. O psicológico reage. Os mecanismos de defesa se manifestam. E é assim que a gente mesmo se joga no poço. Eu precisava mudar essa vibração que me estava em ressonância a essas pessoas que tanto me faziam mal.
Mas euzinha, que descobri que o poço tem um alçapão e se pode cair mais fundo, também sabia que tem trampolins pra saltar pra fora, entao, tomei a minha decisão. Cada dor que senti foi minha conselheira, então me permiti sentir cada uma delas. E eu saí do poço da mesma forma que entrei: Sozinha. Comecei a fazer o dever de casa, arrumar minha morada que é meu corpo e minha mente, me afastei de tudo que me fazia mal, recomecei tantos projetos, comecei a olhar pra dentro de mim e olhar com mais carinho pra mim. Levei a sério a terapia, fazendo anotações, lendo, relendo, deixando doer, chorando, morrendo pra poder voltar a viver.
E foi assim que a vida me impulsionou. Foi assim que muitas pessoas ficaram pra trás. Foi assim que cortei o cordão umbilical dos traumas da minha família, entendendo que as dores deles não precisam ser as minhas, foi assim que eu entendi que posso ser uma ótima amiga sem estar disponível 24h por dia pra cada amigo meu. Eu respeitei o fato de eu ser uma só, uma pessoa que precisa dormir, uma pessoa que precisa de atenção mas que essa atenção é dela mesma. Eu aprendi que não sou sozinha mas que é sempre eu por mim. Eu passei a dar valor à coisas banais, ou que pareciam banais mas que faziam de mim uma grande privilegiada. E passei a aceitar meus privilégios sem ter vergonha mas que isso não faz com que eu não tenha que lutar junto daqueles que são vítimas da sociedade de uma forma histórica e de uma forma real. Porque qualquer tipo de discriminação dói e pode fazer cicatrizes profundas.
Eu posso dizer que em pouco mais de um mês eu me tornei muito mais humana. 2020 não tá perdoando ninguém, mas depois de eu ter conhecido certos infernos, não é qualquer demônio que me assusta (essa frase não é minha mas retrata exatamente o que sinto). Todo mundo que conheço tá passando por um tipo de perrengue e ninguém sabe cancelar 2020. Então a gente tem que viver esse ano e, anestesiados que estamos com tantas noticias ruins, o mínimo é se solidarizar com a dor do outro. Pelo menos são as escolhas que faço e observo as escolhas que meus convivas também fazem. É por isso que só aceito na minha vida quem carrega à sua frente um coração. Porque não é fácil amar ao próximo com tanta gente ruim por aí, mas sabem, não sou pretensiosa e longe de mim pretender ser além do que sou, mas com tanta maldade, eu gosto quando as pessoas olham pra mim e enxergam que também há pessoas boas. Eu amo quando abro um grupo de whatsapp e vejo meus amigos discutindo o racismo, a homofobia e tantos assuntos atuais, e vejo eles tão conscientes sobre cada luta. Eu tenho certeza que escolhi os melhores para continuar minha jornada.
E a partir do momento que consegui sentir a gratidão dentro de mim, o tempo começou a passar de verdade. Entendi quando Renato Russo dizia que tempo é o mercúrio-cromo. É o tempo que cura, que ameniza e que faz aquilo que tanto sufocava já não ter mais um valor.
E eu, enquanto isso, estou de parabéns pela quantidade de coisas que aprendi, superei, conquistei, venci e ressignifiquei. Olha, sinceramente, eu to muito orgulhosa da pessoa que, com o tempo - e todas suas tempestades - estou me tornando.
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