Há três dias fiz 34 anos. As crises de ansiedade eram recorrentes desde meus 17 anos. Engraçado é que sempre detectei os gatilhos, mas a crise sempre chegava das formas mais sorrateiras e acabava me fazendo parar na UPA ou em consultas de emergência achando que eu não ia mais respirar, que ia infartar, que tinha câncer nos ossos ou no cérebro. E não, eu não to potencializando nada, era assim mesmo.
Em agosto de 2020 eu estava vivenciando todos os sentimentos do mundo como se estivesse com todas as gavetas do coração abertas e atirado tudo no chão sem qualquer energia para colocar tudo no lugar. As feridas estavam expostas. Eu chorava todos os dias porque a raiva de situações me consumia mais que a tristeza das situações que não dependiam de mim para mudar. Todas as dores que o ser humano pode sentir eu estava sentindo naquele momento e vendo qualquer apoio que eu buscasse se esvair entre meus dedos. Eu nunca me senti tão só, justo eu, a pessoa de 1milhão de amigos.
Naquele 17 de agosto, 3h da manhã, eu chorava tão desesperadamente que só em lembrar me dá um tremor. Era frio, minhas lágrimas fugiam do meu corpo, eu não tinha mais controle de nada. E foi aí que eu percebi que a única pessoa que podia fazer algo por mim era eu mesma, que seria sempre eu por mim mesma e não me tornei minha aliada. Parece bonito em dizer mas foi a coisa mais dura de sentir. E não é que não tenha apoio de amigos e familiares, eu tenho e AH MEU DEUS como sou grata por isso, mas era o meu momento porque eu não sabia como dividir o peso, como aumentar a auto-estima, como criar confiança em mim. Essas coisas seria só eu que poderia fazer.
Decidi criar uma rotina, criar hábitos de coisas que me faziam bem, comecei a fazer cursos, a voltar a correr e a escrever (sem necessitar de leitores). Eu criei uma vida toda em volta de mim mesma. Lembrei do quanto eu sou foda pra caralho e que eu só precisava sentir isso porque não adianta ninguém dizer ou me lembrar se eu não acreditar. E desde então eu decidi o que poderia ou não me abalar. Me reinventei e ressignifiquei tudo (ressignificar era a palavra que eu tinha tanta ojeriza naquela época). E a partir daquele dia eu nunca mais fui a mesma e desde então vivo uma versão minha que me orgulho dela todos os dias.
E sobre isso tudo que passei, vim te lembrar para que não se cobre se você ainda vive a ansiedade ou depressão. Entenda teu momento e não se torture. Principalmente, não se sinta fraco porque muito provavelmente você tem sido forte demais por longos tempos. Seu corpo precisa do descanso e você precisa lembrar de respirar. Eu não me livrei da ansiedade, me livrei das crises, mas todo dia dou um passo para que ela não me domine mais, só que foram 17 anos de tratamentos e frustrações e desistências e recomeços para eu entender isso. Foi o meu tempo e não será igual o de ninguém. Você tem o seu e a única coisa que precisa saber é que não está condenado a viver com isso.
“Nem sempre a fraqueza que se sente quer dizer que a gente não é forte”.