Toti
As pessoas sonham.
Com carreira, com filhos, com viagens. 
Eu nunca tive muitas ambições, principalmente depois que entrei na faculdade porque eu nunca soube o que eu queria ser quando fosse adulta. Fiz faculdade de Direito mas nunca quis ser juíza, promotora, delegada, advogada, o que fosse.
Quando ainda na adolescência eu imaginava minha vida era sempre uma janela enorme, o frio, e um cachorro dormindo aos meus pés enquanto eu lia algum livro.Talvez fosse minha cena mais romântica sobre a vida e também o mais perto que cheguei de um sonho. É sempre a cena que volto a imaginar quando a ansiedade me ataca e eu preciso encontrar um lugar de paz.
Bom, eu tenho uma janela grande na minha sala. Não é enorme, não é que nem eu sonhava. Mas ela está ali e, inclusive, vou deixar anotado aqui que eu deixo entrar pouco sol, devo iluminar mais a casa.
Mas o que me faz escrever é o cachorro porque nesse sonho de adolescência ele já tinha nome, ele já tinha vida e eu consegui realizar. Meu Che que por algum motivo a vida fez com que a gente morasse separados, mas eu sempre soube que era ele. Eu amo cachorros e eu não sei se penso em ter mais no futuro, talvez eu me apaixone desesperadamente por algum e queira adotar, mas o Che... o Che foi feito pra mim, sob encomenda pro universo. Eu sei que foi.
E eu escrevo agora porque estou com saudades e eu acho que ele também está com saudades de mim. Então eu to sofrendo em dobro. E não, não me venham dizer que dono de pet não é mãe.O amor que sinto por este cachorro preto e branco é a coisa mais pura e sincera que consegui sentir na minha vida. Ele esteve  comigo nos dias que tomei minhas decisões mais difíceis e que mudaram minha vida - e a dele - pra sempre, e ver aquelas orelhas pretas em meio aos pelos brancos daquela fuça que tá sempre suja de terra é o que mais faz aquecer meu coração.
Eu optei em não ser mãe de humanos e dizem que não existe amor que se compare. Veja, eu não to querendo comparar nada e, muito menos, ofender alguém, principalmente uma mãe ou uma mulher que sonhou com a maternidade, seja de filho de sangue ou adotivo.
De tudo, eu só quero dizer que existe amor entre meu filho canino, mundo e eu. Ele me faz ver as coisas com mais leveza. Quando eu sento da escada e ele senta ao meu lado, ou aos meu pés,embaixo de mim, parece que eu não preciso de mais nada. Às vezes uma lágrima furtiva cai porque eu sei que terei que me despedir por uns meses, porque ele vai ficar longe e (ele fica maravilhosamente bem onde ele está) eu não vou ter que me encolher mais para dormir. E eu não vou todo dia acordar e dizer "bom dia, carniça" em pensamento, e ele me responder que tá com fome, que quer ração com mortadela, e que ele também não aguenta os passarinhos. 
É a "nossa coisa" de mãe e filho. E eu entendo quando falam que os filhos são criados para o mundo. Eu mesma levantei asas há quase 8 anos e não estou mais próxima aos meus pais e acho que é mais difícil pra eles do que pra mim mas... não digam que meu sentimento é pouco, que meu sentimento é falho, que meu sentimento não é o suficiente. 
O Che, ele não é só um cachorro. Pode ser pra vocês mas não pra mim porque eu sonhei com ele, eu quis ter ele na minha vida e a gente se reconheceu no primeiro momento em que estivemos juntos. Nossos cabelos são rebeldes, somos teimosos, somos sem-noção e fazemos os outros sorrirem. Respeitem, sabe? Eu amo um animal, eu amo um cachorro, eu amo. E acho que isso deveria ser suficiente.
Eu tenho a sorte dele estar tão bem, de mesmo que esporadicamente ainda poder vê-lo, brincar e exitar em dar banho (sim, eu detesto dar banho nele, embora seja um momento engraçado e fofinho).
Sem sombra de dúvidas ele foi a "coisa" mais legal que me aconteceu. Adotar um animal exige da gente, mas meu presentinho de grego foi basicamente o que encheu meus pulmões de vida nos meus últimos anos.
É amor, sabem? Me basta. 

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