Toti
Eu tenho saudade.
Não vou propor baixo astral no último dia de 2019. O ano foi ruim em si, não contava que ele levaria também o coração dourado da mana que tinha os pelos mais macios do universo. Aqueles pelos eu acho que nunca mais vou encontrar iguais. Pode ser que exista, mas eles não terão o mesmo amor e a mesma ternura da Brida.
Ternura? Quem usa essa palavra em pleno 2019? Bom, eu! É a arte de  ter 32 anos e não conseguir palavra melhor pra descrever.
A Brida era especial por si só. Não só por esses pelos macios, os mais macios do universo, mas porque ela era engraçada, fofa e chata. Eu não consigo conceber que 2019 me aprontou essa de tirar ela de mim. Mas tirou. A gente sabe que a vida de cachorros são breves. Foram 13 anos apenas, bem vividos para ela, mas passou rápido demais para a gente.
Lembro do dia que a adotei, 3/04/2006. Ela tinha 23 dias e cabia na palma da minha mão. Foi assim que a trouxe pra casa. Mas eu não lembro quando foi a última vez que a vi.
Eu só não quero acabar 2019 sem deixar registrado que a Brida foi a coisinha mais macia que minhas mãos tocaram, que eu sinto saudade dos guinchos inacabáveis pedindo comida, de toda a chatice que ela era mas que me colocava um sorriso na cara.
Eu sempre tive cachorros. Acho que nasci no meio deles. Minhas lembranças mais remotas na vida são ao lado de cachorros e sempre são lembranças alegres. A parte chata de ser adulto é justamente entender essa brevidade, conviver com a saudade, viver de lembranças.
Por toda sorte do mundo eu tenho o Che que é minha alegria diária. Aliás, ele está aqui nos meus pés enquanto estou escrevendo e às vezes me questiono sobre as lembranças que ele tem da Brida. Eu não sei como funciona na cabeça dele.
Hoje é 31/12 e já estou com raiva porque alguns vizinhos já soltaram fogos. Che não gosta. Brida morria de medo, a Luva tinha pânico, Tofi mesma coisa... todo histórico de cachorros que tive entravam em pânico nessa data. Aqui em casa já fizemos de tudo pra aliviar o medo deles. Algumas horas atrás eu abracei o Che e ainda disse: a mãe protege. E fico pensando nesse bando de filho da puta (não to pedindo perdão pela expressão porque é o que são) que abandonam seus animais ou simplesmente os deixam sem qualquer amparo.
E aí eu volto a pensar que eu queria a chance de passar a mão nos pelos mais macios do universo nem que fosse por uma última vez.
Eu não quero lembrar de 2019 mas da minha Brida, eu nunca, em hipótese alguma eu vou esquecer.
Tenho saudade, mana.